A relação entre alimentação e saúde é estreita. Todos sabemos como alguns alimentos podem ajudar a desencadear enfermidades como hipertensão, diabetes e gastrite. Assim como conhecemos seu importante papel na prevenção de muitas outras doenças. Nosso corpo se prejudica e se beneficia com aquilo que entra pela nossa boca. Mas e nossa mente? As doenças mentais também podem ser impactadas pelos alimentos que ingerimos?

As doenças ou transtornos mentais envolvem, de acordo com o Ministério da Saúde, depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno obsessivo-compulsivo e dependência química, dentre outras. Entre os hábitos para controlar os transtornos estão a consulta regular a um médico, o tratamento terapêutico adequado, a prática de atividades físicas e uma alimentação saudável. Esta última informação aparece corriqueiramente de maneira genérica. Mas será que há dados mais específicos que mostrem a relação entre o que comemos e os transtornos que atingem nosso cérebro?

Em reportagem do El País o professor da Universidade de Valência e membro do comitê executivo da Sociedade Internacional para a Pesquisa em Psiquiatria Nutricional Vicent Balanzá explica que “as doenças psiquiátricas, como a depressão e a esquizofrenia, não são muito diferentes da diabetes se olharmos as mudanças que ocorrem no organismo a um nível molecular. As pessoas com diabetes e com depressão se encontram em um estado de inflamação sistêmica leve, mas crônica”. Ele diz que “assumindo isso, as intervenções com dieta e nutrição podem ser eficazes para corrigir a inflamação também nas doenças psiquiátricas e, em geral, para melhorar o prognóstico das pessoas que as sofrem. No final das contas, a divisão entre cérebro-mente e corpo não tem fundamento científico”.

Embora para a saúde mental o padrão dietético é o aspecto mais relevante, para além de um nutriente ou alimento específico, o pesquisador afirma que há determinados alimentos que podem fazer diferença por conta de suas propriedades. É o caso da dieta mediterrânea, que oferece nutrientes fundamentais para o cérebro, entre eles minerais, vitaminas, aminoácidos essenciais e ácidos graxos essenciais. “São importantes porque têm efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e neuroprotetores, que ajudam a combater melhor as consequências negativas do estresse. Mas a carência de nutrientes essenciais tem repercussões ao cérebro das pessoas em geral. Assim, o déficit de algumas vitaminas, como o folato e a vitamina B12, se relaciona com um estado de ânimo depressivo e com a deterioração cognitiva”.

A dieta mediterrânea é baseada em alimentos frescos e naturais, sem ultraprocessados, e envolve frutas, vegetais, peixes, azeite, grãos e cereais.

Outro dado que corrobora esse entendimento é apresentado pela psiquiatra Paula Vernimmen. Também em matéria do El País ela informa que já se sabe que “as pessoas que seguem dietas ricas em verduras, frutas, grãos sem processar, peixes e mariscos, que contêm poucas quantidades de carnes magras e laticínios, têm risco de depressão de 25% a 35% mais baixo. Além disso, uma má hidratação, o consumo de álcool, de cafeína e o hábito de fumar podem precipitar e estimular os sintomas de ansiedade”. A especialista acrescenta ainda que os picos altos de açúcar “podem imitar de uma crise de ansiedade a um ataque de pânico”.

Apesar de estudos comprovarem os benefícios de certos alimentos, no caso de transtornos mentais a alimentação não pode ser indicada como um remédio. Ou seja, é preciso seguir a orientação médica e o tratamento prescrito. No entanto, é possível listar os nutrientes essenciais para uma melhora da saúde mental. A Universidade Binghamton, dos Estados Unidos, fez isso ao desenvolver uma pesquisa que mostrou o impacto das deficiências nutricionais no aspecto mental dos indivíduos. Para quem gosta de se prevenir, confira abaixo os nutrientes mais importantes e onde é possível encontrá-los:

  • Ômega-3: peixes (salmão, atum, cavala, sardinha), nozes, sementes (linhaça, chia);
  • Vitaminas do complexo B: carnes magras em geral, ovos, frutos do mar, vegetais de folhas verdes, legumes, grãos integrais;
  • Selênio: bacalhau, castanha do Brasil, nozes;
  • Triptofano: carne de peru (sem ser o embutido), banana, ovos, folhas verde-escuras, cereais integrais, leite.

 

Fontes:

Ministério da Saúde – “Saúde mental: o que é, doenças, tratamentos e direitos”

El País – “Antidepressivos na geladeira? Ciência estuda como a dieta afeta a saúde mental”

CarePlus – “Como a alimentação interfere na saúde emocional”

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